QUANDO OS ÓRGÃOS SEXUAIS ERAM "AQUILO "
No número 5 do artigo 13º da Constituição de 1933 é dito: “Em ordem à defesa da família pertence ao Estado e autarquias locais tomar todas as providências no sentido de evitar a corrupção dos costumes”. Assim, durante o Estado Novo, são promulgadas uma série de leis, cujo objectivo seria o de proteger "a moral e os bons costumes".Uma das mais bizarras disposições aconteceu com a célebre Portaria nº 69035 de 1953, publicada pela C.M.Lisboa, cujo artº 48 determinava a aplicação de multas pecuniárias para os infractores, como é mostrado na imagem (clique para a aumentar).
Nos locais de mais frondosa vegetação em Lisboa, polícia e guardas florestais deveriam procurar quem por lá estivesse de "mão naquilo", "aquilo na mão", "aquilo naquilo" pela frente ou por trás (multas diferentes!!),... ou seja, estivesse aquilo onde estivesse. Até uma mão na mão implicava multa de 2$50 (dois escudos e cinquenta centavos).
E quem era o presidente da Câmara de Lisboa em 1953?
Dava pelo nome de Álvaro Salvação Barreto (1890-1975) tio(?) do 1º cabo do Grupo de Forcados de Lisboa Nuno Salvação Barreto, tio avô dos conhecidos irmãos Ferreira do Amaral - Joaquim, Augusto e João, e 10º neto do nosso tão querido Gil Vicente.
Pois esse senhor, tenente-coronel de artilharia do exército, fiel admirador de Salazar, deputado da Assembleia Nacional e Procurador da Câmara Corporativa, fora o grande mentor e director do sector da Censura Prévia à Imprensa do SPN (Secretariado de Propaganda Nacional) dirigido pelo António Ferro - salazarista convicto, e grande admirador de Mussolini.
Foi ele o responsável pela montagem da máquina da censura à imprensa em Portugal, desde a sua criação pela Ditadura Militar, na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926 até 1944, quando, percebendo que não conseguia o que sempre almejara - a autonomia da sua divisão da censura à Imprensa em relação ao SPN de António Ferro, foi parar à Presidência da Câmara de Lisboa.
- Fontes: Joaquim Cardoso Gomes - Centro de Investigação Media e Jornalismo ; "Álvaro Salvação Barreto: oficial e censor do salazarismo" - CIMJ ; Franco, G. (1993), A censura à imprensa (1820 -1974), Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda ; Augusto Martins Ferreira do Amaral (Lisboa, 1976). Barretos e Outros contendo subsídios para a genealogia descendente de Gil Vicente. [S.l.]:
Edição do Autor. 49-50 e ss
- Texto: Jorge PGuedes
- Imagem in JUP (jornal univ. do Porto)